quinta-feira, janeiro 24, 2008

Esta não é mais uma carta de amor...

Niterói, 24 de Janeiro de 2008.

Oi meu Amor,


Diagnosticaram-me com depressão, o que ocorreu logo depois da síndrome do pânico. Dizem, que isso com tratamento passa ou a gente aprende a controlar. Tem dias que eu controlo, tem dias que não.
A minha vida entrou em pausa desde o dia em que você deu o stop. As coisas não são como um filme, e o meu sonho de cineasta também não vingou. O príncipe encantado e salvador não virou sapo, mas também não fez o final ser feliz.

Eu era uma menina e hoje ainda continuo sendo, só que com 8 anos a mais. Quis brincar de casinha, mas construí alicerces de areia. Éramos duas crianças. E tivemos medo do bicho-papão. Não sei porque eu agia daquela maneira, mas no fundo eu tinha medo. Pensei que eu perderia meus melhores amigos, aqueles pelos quais eu daria a vida, afinal amizade pra mim era (ou é) isso. Hoje, nenhum deles estão aqui ao meu lado. Seguiram suas vidas e cresceram. Dói.
Já me disseram que sou invejosa. Doeu. Mas não é inveja. É a tentativa de entender o porque. Eu te quis mesmo tento negado tanto, eu só estava confusa. Eu só queria curtir mais um pouco assim como meus amigos iriam curtir: as noitadas, uma faculdade, trabalho, viagens. Aí sim, depois de tudo meio encaminhado você viria. Mas no fundo, lá no fundo, existia um sentimento que eu nunca vou conseguir explicar. Um amor, que não se descreve, se sente. Eu te amava sim. E hoje eu trocaria todos os sonhos por você ao meu lado.

Oito anos depois de você ter me deixado, eu ainda não sou ninguém. Não tenho os amigos a quem tantas vezes me entreguei de corpo e alma em nome de uma amizade. Não tenho emprego, voltei pra casa dos meus pais, onde o tempo todo ouço a quão fracassada eu me tornei. As portas dos lugares batem na minha cara. As pessoas não lembram de mim. Já passei uma semana sem receber uma ligação. Tenho que me autoconvidar pra festas comemorativas ou as passo sozinha. Sabia que eu era a mais popular? Sim, aqui em casa era o point da galera. Pra saber qual era a boa, era só ser meu amigo. Eu tinha amigos.

Hoje eu tenho...solidão.

No amor...Deste aí, só tomo pisada. É só eu me encantar por alguém, pra já sentenciar o fim. E nem foram tantos assim, viu? Eles poderiam ter tudo de mim. Mas não quiseram. L.P. foi uma paixão mal resolvida que depois de anos só serviu pra mostrar que o tempo não pára. Depois veio o A. este me quebrou mesmo. Veio com tudo num jeito mansinho e foi embora deixando em mim o gosto do fel. Agora tem o F. que é como eu disse, é só o brilho no olhar me entregar, pra história cor de rosa ficar cinza.

Tem dias em que eu estou sorrindo e começo a chorar, nem eu mesma entendo porque. Deve fazer parte da tal depressão.

Sabe, mesmo aos 28 anos, acho que ainda tenho 15. E não sou hipócrita em dizer que lembro de você todos os dias, pois é mentira. Já passei dias sem lembrar de você e não me acho menos humana por isso. Tiveram dias em que eu pensei muito mais em A. ou em F. do que em você. E o que me espanta é me olhar no espelho, e ver que com 15 anos (emocionalmente) a ficha ainda não caiu.

Não cai a ficha de: Jacqueline, 28 anos, aos 21 mãe.

Mãe, eu? Não pode ser.

Mas foi.

E como seria hoje em dia? Eu saberia te educar? Te passar os valores? Te dizer não? E o amor...eu saberia te dar? E o colégio? E as noites em claro, eu agüentaria?

Eu quero lembrá-la, filha que eu só tenho 15 anos...até hoje.

Mas a vida me diz: Você já tem quase 30. E o que você tem?

Seu pai e eu éramos duas crianças brincando de casinha, sim. Mas a gente, entre tapas e beijos nos gostávamos. Um dia antes de você nascer, nós brigamos feio (você veio ao mundo naquela madrugada, e fizemos as pazes, rs!). Mas entre gritos, socos na parede, eletrônicos jogados no chão, as duas crianças sozinhas na sua casinha, falaram coisas ruim uma pra outra. Eu disse pro seu pai que você não era dele, era de um outro pai. Menti pra provocá-lo. Sabe o que ele disse feito um bebê chorão? Que não importava, que te amava como se você fosse dele, e ia ser assim pra sempre. E continuou dizendo que me tirou da casa dos meus pais e que agora nós éramos a família dele.

Acho que foi a melhor declaração de amor que nós duas já recebemos.

Família, filha.

Este era o meu sonho e você me deu uma.

O dia mais feliz de toda a minha vida foi na única tarde em que ficamos somente nós três. Uma família.

Seu pai e eu não nos vemos mais. Até nos encontramos depois, mas ele ouviu as vozes dos Chiaradias e se afastou de mim.
Hoje pelo que sei, ele te deu dois irmãozinhos. Me doeu saber. Foi um sentimento egoísta de que só eu podia ser merecedora da honra de dar ao seu pai um filho. Mas ele está feliz e isso que deve importar.

Filha, o que eu tenho a dizer é que preciso te dar tchau agora, deixar você ir. Eu ainda não morri, e preciso reaprender a viver. Você vai sempre ser a minha melhor lembrança. O meu erro mais importante, a melhor camisinha não usada. O dia das mães que eu ainda não comemorei, a maternidade que eu ainda não consegui vivenciar. Mas acima de tudo a saudade que eu gosto de ter.

Mas a vida tem que nascer pra mim agora, e neste ano. O luto deve acabar. O dia 16 de Janeiro ser só uma data e o 19 de Janeiro não mais o dia da sua morte, mas um dia de oração.

Três dias filha, foram o melhor presente que você poderia me dar. Mas é só o que eu quero guardar agora.

As lembranças boas vinda com o gostinho sublime da expressão do que é o AMOR.

LARISSA, aquela que trás alegria. Faça cumprir a partir de agora o significado do seu nome na minha vida.

Beijos

Mamãe Jacqueline
Álbum de Família








LARISSA DE OLIVEIRA CHIARADIA

26 comentários:

Jackie Götzen disse...

Pessoal...tem um post antigo em Janeiro de 2006 que também é sobre ela..."HOJE, AMANHÂ E SEMPRE"

Quem quiser dar uma olhada....

Renato disse...

Eiiiii!
Eu não sabia que vc tinha uma filha!!!
Que lindo!!!

Renato disse...

Obs.: Os filmes mais famosos do Brad Renfro foram feitos quando ele ainda era criança. "A Cura", com a Susan Sarandon, no qual ele ajudava um amigo que tinha Aids... "O Aprendiz" com o Ian McKellen e "O Cliente" (não sei com quem, rs).
Mas eu só o conheci já adulto mesmo, num filme alternativo chamado Bully.
Beijo!

Mariana disse...

Jackie... Ah, Jackie...
Eu nunca sei o que dizer...
Um beijo, viu, querida?

Anônimo disse...

poxa jackie, como a mariana disse aí em cima, tb não sei o q dizer... o q dizer numa hora dessa? a gente lê os blogs e nem imagina as histórias de cada uma dessas pessoas q descobrimos nesse mundo virtual.
termino seu post com lágrimas nos olhos. mto emocionante msm. e mto corajoso da sua parte colocar isso aqui.
bjs querida
fica bem

stranger e tal disse...

chorei bastante. mas vc deve ter chorado bem mais.
espero q 2008 seja um ano pra vc sorrir bastante. sorrir demais. e ser muito feliz.
um beijo

Renata disse...

são os sobressaltos da vida que nos fazem gerar força suficiente pra mover aquele motor que bate dentro do peito, sabe?

como diz minha mãe: se cada um contar o que passou, a vida vira uma epopéia!

tua história com certeza te fez muito forte, e é por isso que hoje você tá aí, aos 28 firme, forte e capaz de contar essa história...

=*

Camila disse...

força mulher!

tb gostei muito do seu blog, e volte sempre q quiser lá no meu tb.

bjs chuchu

Anônimo disse...

Oi querida como vai vc?
Nossa brigada por ter passado no meu blog.
Fiquei meio perdida no seus posts, pra entender primeiro que se passou. hehe.
Moça, deve ser terrivel mesmo perder um bebê, depois de tê-lo carregado no colo. Coisas que esta acima de nos entender.
Sabe oq eu "meio" que aprendi observando os outros? Que ao nosso redor as pessoas ficam triste por umas semanas, um mes, depois elas não são "TÃO" compreensivas e disponiveis.
Sabe o lado bom de vc ainda se sentir com 15 anos? (isso tem um lado bom) é que vc é JOVEM, se deu o direito de fazer DUAS FACULDADES, tem a oportunidade de recomeçar a sua vida. E não... vc não é uma fracassada. Jamais pense nisso, vc falho no passado mas não permita que isso seja o seu erro no presente.

Boa sorte garota, e te desejo o melhor.

AGORA QUERO VER MAIS FOTOS DE UBATUBA

Anônimo disse...

opaaa troquei as bolas

que Ubatuba oq... sorry pela viagem.

Mas que barriguinha fofa que vc tinha ein

Anônimo disse...

opaaa troquei as bolas

que Ubatuba oq... sorry pela viagem.

Mas que barriguinha fofa que vc tinha ein

Andréia disse...

Que post cheio de emoção! Tá vendo! Quando eu digo que você escreve com sentimento não tô mentindo!
Eu me predí neste post de tal forma que o leite derramou no fogão! Sério. Comecei a ler e esquecí da vida!
Você é uma mulher muito forte, cheia de vida e histórias pra contar! A cada dia me surpreendo mais com você menina!!! A vida te reserva muitos sorrisos, você vai ver!

Beijos no coração!!!!!!!

Vinicius Cabral disse...

Oi, Jackie... tô sumido não... rs

Olha... lindo post... eu tb tive um irmãozinho (eu seria o "do meio" hj em dia), que infelizmente virou um anjo (é... pq criança não morre, né?)... mas, mesmo não sendo o mesmo caso que o seu, eu te entendo...

:)

A Jana e o Ti disse...

Nossa, Jackie, eu não podia imaginar que vc já tinha passado por algo tão forte assim... peço a Deus que te dê força nessa nova etapa então. que renasças, linda como a fênix...
bjos!

Diego. disse...

fiquei meio travado [pela segunda vez seguida aqui na sua casa]... achei impressionante a história!

2008 é a hora de reinventar seu amor próprio... bjs

Príapo disse...

Sem palavras aqui. (Logo eu que sou tagarela pacas). Venho visitar pela primeira vez e leio isso tudo aí... Caramba.

Mas gostei, viu?

Anônimo disse...

Jackie ....
Karaka meu anjo há coisas que são dificeis demais em nossas vidas.
Não sabia de tudo isso. Lendo agora seu post fiquei com o coração na mão.
Saiba que adoro d+ você e sei que vc será muito feliz! (Sem F's ou A's para serem pedrinhas em seu caminho).
Te amo minha amiga carioca !!!!
Beijos

Drica Menezes disse...

nossa Jackie, fiquei emocionada...chorei! Puxa, deve ser terrivel passar por isto, nem sei o q t dizer....mas torço mto pra q vc consiga seguir em frente e ser feliz! é impressionante como nos envolvemos com nossos amigos virtuais...queria poder t dizer coisas q t fizessem bem, mas não sei como...então fica meus sentimentos e q 2008 seja um ano maravilhoso realmente pra vc! mtos bjs!!! fica bem!!!

Nicholas Gimenes disse...

nossa Jackie fiquei meio desconcertado com seu post.. mto emocionante! só ñ entendi a parte do fracassada lá.. alguém q enfrentou tanta coisa.. e venceu, pq está ai correndo atrás da felicidade... pra mim alguém assim de fracassada ñ tem nada.. mas de vencedora.

ah, obrigado pelos comentários lá no meu blog... passarei por aqui mais vezes!! bjos, ótima semana pra vc! :)

Renata disse...

Nossa jackie, não consegui parar de chorar até agora!! E que mulher forte é você de conseguir falar assim sobre o assunto. Só desejo que você continue sempre assim firte, forte e sempre lutando pra seguir em frente!
Um beijo enorme, com muito carinho!
Re

Anônimo disse...

Queremos post novos!
hehehe

Maricota disse...

Oi,
Meu nome é Maria.
Conheci vc pelo blog da Renata.
Eu me identifiquei mt com vc, seu jeito de escrever, sua dor.
Fique a vontade pra ler meu blog.
Fiz vestibular pra cinema aos 23 e não passei.
Boa sorte na sua vida!
Prazer em conhecê-la.
Maria

Maricota disse...

Vc pode descobrir mts coisas no meu blog, pode descobrir q a vida é triste para algumas pessoas e maravilhosa para mts outras.
Eu tenho sindrome, tenho depre, tenho ansiedade... tenho tristezas, mts...
quando penso q só existem pessoas felizes no mundo, vc aparece.
Mt emocionante a sua história e sua maneira de escrever e se expôr.
Os remédios te ajudarão mt, pode acreditar. Eu tenho a mesma idade q vc, passei por poucas e boas, ainda passo e tenho experiencia no assunto. Qq dúvida pode falar comigo, tá?
Beijos

Anônimo disse...

Nossa!! Ainda tô chorando aqui na frente do pc (e já deve ter uns 10 minutos que acabei de ler o post) acho que é pq sou mãe, não desmerecendo quem não seja, mas...ai! nem sei o que dizer...
Força menina!!!
Bjos!

Bianca disse...

[suspiros]

Anônimo disse...

Jackie, dentre todas as pessoas que conheci (e você não é virtual para mim, isso eu sei), você é de longe, a mais forte! A história é escrita com o suor de quem a vive e não com a tinta de quem a escreve. Tenha certeza de que sua vida é um ensinamento e um tapa na cara de muita gente que insiste em viver na inutilidade e nas trevas da ignorância. Não tenho promessas, não sei o dia de amanhã. Entretanto, hoje posso dizer: estou com você, Chan!